segunda-feira, 11 de abril de 2011

Assinalavam o feitio da ocidental praia lusitana

I
Berrego com mau feitio
Pelo feitio do pão

II
Berrego com mau feitio
Pelo feitio do pão
Das fábricas com trabalho a feitio
E do feitio em repoiso nos campos

III
Berrego com mau feitio
Pelo feitio do pão
Onde pára o feitio do homem-estado
Que por mares nunca antes navegados
Assinalavam o feitio da ocidental praia lusitana

IV
Berrego com mau feitio
Pelo feitio do pão
Não há barões
Nem armas
Nem mares

Desespero. desânimo. desalento pelo feitio do pão

Inspirado – Os Lusíadas de Luís de Camões, Canto I

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Garimpeiro




Destreza na peneira
Mestre do olhar

Agita a cupidez
Perlustra leiras

Na água
Paira a vida

Ora abutre
Ora primavera


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Solidificação do Belo

Os jardins a florir
E a lua sempre a
Nascer e morrer

Ser ou não ser, eis a questão
Talvez um estrangeirismo aformoseie:
“to be, or not to be”
Ou
Uns e os outros
“Les Uns et les autres”

Adito apenas arte à estética
O belo aos sentidos
Mesmo que apenas conte cinco
A emoção existe

A morte;
O nascer;
A lua;
Os jardins;

Poderá ser:
Bolero de Ravel
Trauteando [meticulosamente]
Imagens em pautas de música

domingo, 5 de setembro de 2010

Ponto vernal

Atapetam-se jardins
De flores
Colhem-se novas cores

- É o ponto vernal

Adossado
Chalaceia o caminheiro
Do inverno

- O solstício ainda vem longe

Solfejam alegria
Andorinhas
Em pomares de fartura

Abrem-se:
Janelas de esperança

sábado, 28 de agosto de 2010

Microretrato

Captei
O instantâneo do olhar
Enorme
Como os olhos

Desfolhei
A verdade desejada
Na Mentira
Sentida

Abstruso
Guardei:
Microretrato

Na dor do saber
A verdade que coube

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Desilusão

Implosão.
A luz liquefez-se
No momento

Dissolvida
A imagem:
Deixou de ser

Vivem agora:
Em mim
Lembranças

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Desabafo [em arrogância] verbal

Eu escrevo:
logo sou, existo
   - penso

Tu não escreves:
logo não és, não existes
  - nunca pensas

Ele não escreve:
logo nunca é, nunca existe
  - nunca pensa

Nós escrevemos:
obviamente somos [estou cá EU], existimos
            - pensaremos [continuo por cá, EU]

Vós não escreveis:
logo nunca sois, nunca existis
  - nunca pensareis

Eles nunca escrevem:
logo nunca são, nunca existem
 - nunca pensarão

Está no vosso olhar a melhor leitura, aquela que mais vos aprouver.
Eu letreio a caligrafia encarnada.